DJ lenda do mash-up, atração do Nokia Trends no fim de semana (29), anuncia novo álbum e discute tecnologia e política
Flavinha Campos
Considerado um dos maiores DJs da atualidade e um dos fundadores do "movimento" mash-up, Z-Trip é autor de sets que costumam ser super ecléticos e impossíveis classificar. Ele já abriu até para os Rolling Stones, em Toronto, no Canadá, tocando para mais de 500 mil pessoas. Z-Trip se tornou popular com o lançamento, em 2001, de Uneasy Listening Vol. 1, em colaboração com DJ P. No mesmo ano, participou do documentário Scratch e, em 2005, também fez parte da seqüência Scratch: All The Way Live, mostrando sua técnica na discotecagem.
Seu primeiro lançamento, Shifting Gears, pelo selo Hollywood Records, foi um grande sucesso, tendo sido agraciado com quatro estrelas pela revista Rolling Stone. Além de tudo isso, ele contribuiu com diversos trabalhos para o videogame Skate, da EA Games. Recentemente, foi militante na campanha política de Barack Obama, lançando até uma mixtape especial de apoio ao presidente eleito. Clique aqui para escutar ou baixar. A seguir, acompanhe a entrevista que ele concedeu, por telefone, ao Skol Beats:
E aí, como você se sente vindo para o Brasil? É sua primeira vez por aqui? Era para você vir outras vezes, né?! O que aconteceu?Sim. Eu já fui convidado para tocar aí umas duas ou três vezes, mas em todas as ocasiões aconteceram imprevistos que me impediram de ir. Uma das vezes, eu estava em turnê na Europa, e das outras, aconteceram problemas na angenda. Foi tão confuso, achei até que era piada, que Deus tava tirando uma com minha cara. Já estou querendo ir para o Brasil faz uns quatro anos, e finalmente conseguirei me apresentar aí no sábado.
Você fez uma mixtape apoiando Barack Obama. Por que decidiu apoiá-lo tão ativamente? Para mim, antes de se eleger, Obama parecia ser o cara certo para o trabalho. Principalmente por ter vindo de baixo, ele não tinha nada e não era ninguém, subiu na vida por mérito próprio. Além de ter novas idéias, diz coisas que une as pessoas. Acho que ele pode levantar este país e colocar ordem na bagunça. Nós estamos numa situação muito delicada no momento, eu estou muito empolgado agora que ele é presidente. É um peso que saiu das minhas costas, já que George Bush realmente foi um canalha e destruiu o país. Fazer o ObamaMix foi uma honra para mim. Peguei trechos do discurso de Obama e mixei com músicas que trazem mensagens semelhnantes.
Meu objetivo foi tocar as pessoas indecisas e aquelas que desistiram das eleições e da democracia, para conscientizar, votar para mudar o mundo. Fico feliz que no final tenha dado tudo certo e a maioria votado nele. Acredito no Obama não só por ele ser uma pessoa incrível e inteligente, mas pelo fato de ser o primeiro presidente negro da história americana! Isso foi uma grande mudança, um fato histórico! Acho que com Obama na presidência temos a chance de ter um mundo melhor e consertar muitos problemas que foram gerados durante a "ditadura" Bush. Um homem que trapaceou e roubou para chegar à presidência, e tomou medidas que beneficiaram apenas seus "amigos" durante todo o mandato. Ele era um filho da mãe do mal.
Mas o governo americano é composto por mais que um homem só. Tem todo um jogo político que envolve muita gente e muitos interesses. Você acha que se Obama tentar mudar muito, pode acontecer algo com ele?Eu estou muito preocupado que ele seja assassinado. Eu não quero pensar nem dizer isso, mas observando nossa história, todo mundo que tentou mudar alguma coisa neste país acabou sendo morto, gente como John F. Kennedy e Martin Luther King. É um sistema político maior que só o do país, é um sistema global, que envolve todas as Américas, Europa e Ásia. Tenho a esperança que todo o mundo consiga se organizar politicamente.Espero que seja possível salvar o meio ambiente, pois estamos literalmente dizimando a raça humana com a destruição do planeta. Precisamos ter mais consciência ecológica para salvar nosso planeta. O mundo está morrendo. Sei que Obama também está preocupado com isso, e vai fazer algo a respeito.
Você é considerado um dos fundadores do movimento mash-up. Como foi que tudo começou?Não sei se posso me considerar um dos fundadores. Eu acho que isso se deve a nomes como Cold Cut e Negative Land, DJs que faziam mixagens da pesada, misturando músicas abstratas e diversificadas que deram início à cultura mash-up. Assim como os DJs de hip-hop, Grand Master Flash, Afrika Bambataa e Run DMC, que também contribuíram fazendo mixagens de James Brown com riffs de rock. Esses caras que escreveram a história do movimento. Quando alguém me chama de DJ de mash-up, me parece meio redundante, já que o papel do DJ é fazer mixagens de músicas diferentes, e não tocar faixas do mesmo estilo e gênero. Acho que o termo foi criado para ajudar as pessoas a entenderem o que está acontecendo no mix do DJ. Diferentes camadas, de músicas diversas, sendo tocadas juntas. Estes segmentos do mix, que as pessoas preferem chamar de mash-ups, eu considero nada mais que mixagens. Parte de um DJ set.
Você acha que os mash-ups estão um pouco exagerados hoje em dia? Muita gente fazendo a coisa de qualquer jeito? Qual o futuro do estilo em sua opinião?Acho que muita gente faz uso exagerado de mixagens, tornando-as descartáveis e fúteis. Por exemplo, mixando trechos de uma música que saiu o mês passado, com outro trecho de um lançamento de dois meses atrás, sendo uma parte rock e a outra hip-hop. Assim ninguém consegue entender o que está acontecendo ali. A mixagem de qualquer coisa com qualquer coisa não é só um problema do movimento mash-up, e sim de muitos DJs, em geral, de qualquer cena. Muitos DJs não possuem refinamento suficiente para fazer um set interessante. Às vezes eles nem querem saber o que estão tocando, já que as faixas são descartáveis hoje em dia. Além de existirem muitos que são simplesmente inexperientes.
Garotos que tocam há um ou dois anos, e ganham destaque na cena através do trabalho de marketing e promoção feito por empresas e gravadoras, e não pelo seu talento. Mas tento não generalizar, pois alguns desses jovens DJs podem ser bons também. A questão é ter o feeling de mixar. Para mim, um bom mash-up é quando se mixa uma faixa conhecida com algo que ninguém sabe o que é. O que, na verdade, se transforma em um remix. Acho que sempre dá para melhorar uma track. Sinto que fazer música é remixar, re-editar, reutilizar, reorganizar e reinterpretar. Mixar duas coisas que a princípio soam antagônicas e fazer a harmonia funcionar.
Você está trabalhando agora com o Serato Scratch Live (programa que simula pick-ups e scratches, além de diversas funções). É muito diferente do vinil? Tem algum problema de exatidão e coerência? Como foi evoluir com a tecnologia?Bem, eu estava meio desconfiado quando o Serato surgiu, principalmente por que eu não tinha acesso a essa nova tecnologia. Mas quando consegui por as mão no Scratch Live, há mais ou menos três anos, comecei a gostar e ver os benefícios do programa. Descobri coisas que não eram possíveis com vinil, coisas que ajudaram muito no processo criativo. Em termos de scratching, o simulador chega bem perto do vinil, diria 8,5 ou 9 de 10. Mas dá pra sentir que não é igual, principalmente quando se faz umas coisas técnicas fica um pouco fora, pecando na exatidão e coerência, mas só ouvidos muito bem treinados conseguiriam perceber.
O que você está tocando ultimamente?Eu toco de tudo, tem gente que só toca um estilo. Eu tento mixar diferentes estilos de maneira coesa. Não jogo as faixas no set, somente mixando uma coisa legal com outra, eu tento construir uma história com começo, meio e fim, que fica melhor a cada mixagem.
E o que você anda fazendo no estúdio? Tem algum lançamento por vir?Estou pra começar um trabalho com outros músicos. Produzindo uma banda chamada Dubtrio, três caras que tocam dub misturado com heavy metal. Estou super empolgado em começar a trabalhar com eles. Constantemente, lanço remixes, mash-ups e mixtapes no meu site, para serem baixados de graça. Dou tudo de graça no djztrip.com, prefiro que as pessoas peguem o que quiserem e venham curtir o meu show. Mas também estou pensando em reunir este material em um álbum, que deve sair lá por abril, maio ou junho. Não sou o tipo de artista que produz um álbum, faz a turnê e assim sucessivamente. Gosto de trabalhar livremente, lançar o que tiver rolando no meu site. Quando dá na telha, produzo um disco, seja de uma banda como o Dubtrio ou meu mesmo.
+ info
http://www.nokiatrends.com.br/
Flavinha Campos
Considerado um dos maiores DJs da atualidade e um dos fundadores do "movimento" mash-up, Z-Trip é autor de sets que costumam ser super ecléticos e impossíveis classificar. Ele já abriu até para os Rolling Stones, em Toronto, no Canadá, tocando para mais de 500 mil pessoas. Z-Trip se tornou popular com o lançamento, em 2001, de Uneasy Listening Vol. 1, em colaboração com DJ P. No mesmo ano, participou do documentário Scratch e, em 2005, também fez parte da seqüência Scratch: All The Way Live, mostrando sua técnica na discotecagem.
Seu primeiro lançamento, Shifting Gears, pelo selo Hollywood Records, foi um grande sucesso, tendo sido agraciado com quatro estrelas pela revista Rolling Stone. Além de tudo isso, ele contribuiu com diversos trabalhos para o videogame Skate, da EA Games. Recentemente, foi militante na campanha política de Barack Obama, lançando até uma mixtape especial de apoio ao presidente eleito. Clique aqui para escutar ou baixar. A seguir, acompanhe a entrevista que ele concedeu, por telefone, ao Skol Beats:
E aí, como você se sente vindo para o Brasil? É sua primeira vez por aqui? Era para você vir outras vezes, né?! O que aconteceu?Sim. Eu já fui convidado para tocar aí umas duas ou três vezes, mas em todas as ocasiões aconteceram imprevistos que me impediram de ir. Uma das vezes, eu estava em turnê na Europa, e das outras, aconteceram problemas na angenda. Foi tão confuso, achei até que era piada, que Deus tava tirando uma com minha cara. Já estou querendo ir para o Brasil faz uns quatro anos, e finalmente conseguirei me apresentar aí no sábado.
Você fez uma mixtape apoiando Barack Obama. Por que decidiu apoiá-lo tão ativamente? Para mim, antes de se eleger, Obama parecia ser o cara certo para o trabalho. Principalmente por ter vindo de baixo, ele não tinha nada e não era ninguém, subiu na vida por mérito próprio. Além de ter novas idéias, diz coisas que une as pessoas. Acho que ele pode levantar este país e colocar ordem na bagunça. Nós estamos numa situação muito delicada no momento, eu estou muito empolgado agora que ele é presidente. É um peso que saiu das minhas costas, já que George Bush realmente foi um canalha e destruiu o país. Fazer o ObamaMix foi uma honra para mim. Peguei trechos do discurso de Obama e mixei com músicas que trazem mensagens semelhnantes.
Meu objetivo foi tocar as pessoas indecisas e aquelas que desistiram das eleições e da democracia, para conscientizar, votar para mudar o mundo. Fico feliz que no final tenha dado tudo certo e a maioria votado nele. Acredito no Obama não só por ele ser uma pessoa incrível e inteligente, mas pelo fato de ser o primeiro presidente negro da história americana! Isso foi uma grande mudança, um fato histórico! Acho que com Obama na presidência temos a chance de ter um mundo melhor e consertar muitos problemas que foram gerados durante a "ditadura" Bush. Um homem que trapaceou e roubou para chegar à presidência, e tomou medidas que beneficiaram apenas seus "amigos" durante todo o mandato. Ele era um filho da mãe do mal.
Mas o governo americano é composto por mais que um homem só. Tem todo um jogo político que envolve muita gente e muitos interesses. Você acha que se Obama tentar mudar muito, pode acontecer algo com ele?Eu estou muito preocupado que ele seja assassinado. Eu não quero pensar nem dizer isso, mas observando nossa história, todo mundo que tentou mudar alguma coisa neste país acabou sendo morto, gente como John F. Kennedy e Martin Luther King. É um sistema político maior que só o do país, é um sistema global, que envolve todas as Américas, Europa e Ásia. Tenho a esperança que todo o mundo consiga se organizar politicamente.Espero que seja possível salvar o meio ambiente, pois estamos literalmente dizimando a raça humana com a destruição do planeta. Precisamos ter mais consciência ecológica para salvar nosso planeta. O mundo está morrendo. Sei que Obama também está preocupado com isso, e vai fazer algo a respeito.
Você é considerado um dos fundadores do movimento mash-up. Como foi que tudo começou?Não sei se posso me considerar um dos fundadores. Eu acho que isso se deve a nomes como Cold Cut e Negative Land, DJs que faziam mixagens da pesada, misturando músicas abstratas e diversificadas que deram início à cultura mash-up. Assim como os DJs de hip-hop, Grand Master Flash, Afrika Bambataa e Run DMC, que também contribuíram fazendo mixagens de James Brown com riffs de rock. Esses caras que escreveram a história do movimento. Quando alguém me chama de DJ de mash-up, me parece meio redundante, já que o papel do DJ é fazer mixagens de músicas diferentes, e não tocar faixas do mesmo estilo e gênero. Acho que o termo foi criado para ajudar as pessoas a entenderem o que está acontecendo no mix do DJ. Diferentes camadas, de músicas diversas, sendo tocadas juntas. Estes segmentos do mix, que as pessoas preferem chamar de mash-ups, eu considero nada mais que mixagens. Parte de um DJ set.
Você acha que os mash-ups estão um pouco exagerados hoje em dia? Muita gente fazendo a coisa de qualquer jeito? Qual o futuro do estilo em sua opinião?Acho que muita gente faz uso exagerado de mixagens, tornando-as descartáveis e fúteis. Por exemplo, mixando trechos de uma música que saiu o mês passado, com outro trecho de um lançamento de dois meses atrás, sendo uma parte rock e a outra hip-hop. Assim ninguém consegue entender o que está acontecendo ali. A mixagem de qualquer coisa com qualquer coisa não é só um problema do movimento mash-up, e sim de muitos DJs, em geral, de qualquer cena. Muitos DJs não possuem refinamento suficiente para fazer um set interessante. Às vezes eles nem querem saber o que estão tocando, já que as faixas são descartáveis hoje em dia. Além de existirem muitos que são simplesmente inexperientes.
Garotos que tocam há um ou dois anos, e ganham destaque na cena através do trabalho de marketing e promoção feito por empresas e gravadoras, e não pelo seu talento. Mas tento não generalizar, pois alguns desses jovens DJs podem ser bons também. A questão é ter o feeling de mixar. Para mim, um bom mash-up é quando se mixa uma faixa conhecida com algo que ninguém sabe o que é. O que, na verdade, se transforma em um remix. Acho que sempre dá para melhorar uma track. Sinto que fazer música é remixar, re-editar, reutilizar, reorganizar e reinterpretar. Mixar duas coisas que a princípio soam antagônicas e fazer a harmonia funcionar.
Você está trabalhando agora com o Serato Scratch Live (programa que simula pick-ups e scratches, além de diversas funções). É muito diferente do vinil? Tem algum problema de exatidão e coerência? Como foi evoluir com a tecnologia?Bem, eu estava meio desconfiado quando o Serato surgiu, principalmente por que eu não tinha acesso a essa nova tecnologia. Mas quando consegui por as mão no Scratch Live, há mais ou menos três anos, comecei a gostar e ver os benefícios do programa. Descobri coisas que não eram possíveis com vinil, coisas que ajudaram muito no processo criativo. Em termos de scratching, o simulador chega bem perto do vinil, diria 8,5 ou 9 de 10. Mas dá pra sentir que não é igual, principalmente quando se faz umas coisas técnicas fica um pouco fora, pecando na exatidão e coerência, mas só ouvidos muito bem treinados conseguiriam perceber.
O que você está tocando ultimamente?Eu toco de tudo, tem gente que só toca um estilo. Eu tento mixar diferentes estilos de maneira coesa. Não jogo as faixas no set, somente mixando uma coisa legal com outra, eu tento construir uma história com começo, meio e fim, que fica melhor a cada mixagem.
E o que você anda fazendo no estúdio? Tem algum lançamento por vir?Estou pra começar um trabalho com outros músicos. Produzindo uma banda chamada Dubtrio, três caras que tocam dub misturado com heavy metal. Estou super empolgado em começar a trabalhar com eles. Constantemente, lanço remixes, mash-ups e mixtapes no meu site, para serem baixados de graça. Dou tudo de graça no djztrip.com, prefiro que as pessoas peguem o que quiserem e venham curtir o meu show. Mas também estou pensando em reunir este material em um álbum, que deve sair lá por abril, maio ou junho. Não sou o tipo de artista que produz um álbum, faz a turnê e assim sucessivamente. Gosto de trabalhar livremente, lançar o que tiver rolando no meu site. Quando dá na telha, produzo um disco, seja de uma banda como o Dubtrio ou meu mesmo.
+ info
http://www.nokiatrends.com.br/
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