Zegon & Squeak E. Clean mostram repertório do aguardado projeto North America South America em primeira mão no festival armado no Cine Marrocos, em São Paulo
Eduardo Ribeiro
Acontece neste fim de semana (29), no palco do Nokia Trends 2008, a estréia em solo nacional do projeto N.A.S.A., ambiciosa parceria entre os DJs Zegon, ex-Planet Hemp, e o produtor americano Sam Spiegel aka Squeak E. Clean. Eles vão apresentar um show no formato DJ Set acompanhado por um teatro com monstros de ficção científica, astronautas e marcianos - tudo para embalar o tema do álbum que sai somente em fevereiro de 2009 e levou cinco anos pra ficar pronto, The Spirit of Apollo. O trabalho, repleto de parcerias ilustres, foi produzido durante a estada de Zegon em Los Angeles, onde conheceu Spiegel.
O repertório apresenta, ao longo de suas 17 faixas, altas referências da eletrônica dos anos 90 e muitas bases nascidas de samples de sons dos anos 60 e 70. Com mais de 50 colaboradores, é uma das obras mais interessantes dos últimos tempos, principalmente pela harmonia que estabelece entre a música brasileira e americana, indo do rock ao folk, passando pelo indie e o samba, sem nunca perder a levada hip-hop característica dos trabalhos de ambos os artistas. Confira a entrevista que o DJ Zegon concedeu por telefone ao Skol Beats, de dentro do supermercado (!).
Foi somente neste ano que vocês finalizaram o primeiro disco do projeto N.A.S.A.. O álbum sai ainda em 2008?Vai sair em 19 de fevereiro de 2009.
Você imaginava que ia passar cinco anos trabalhando nele?A gente foi levando sem compromisso, entendeu?! No primeiro ano, não sabíamos pra onde a gente ia nem o que tava fazendo ali. Aí a gente se juntou, começou a compor, fazer bases, pegar um convidado aqui, outro ali. Depois do primeiro ano que surgiu um nome, e no decorrer o disco foi tomando um rumo, ficando maior e a gente querendo mais, nunca se dava por acabado. Chegamos a ficar com o projeto, como tinha muita gente envolvida, seis meses sem gravar nada. Gravava uma pessoa, depois de dois meses gravava a outra. E não tinha gravadora, fizemos o disco todo sozinhos.
E tinha que levar todo mundo pro estúdio?É, sem gravadora, sem dinheiro... Teve a vez em que chegamos a pagar um vôo pra alguém e a pessoa não apareceu... Então, passamos por várias situações difíceis durante esses anos todos. Foi no último um ano e meio que a gente entrou numa reta final.
Uma produção totalmente solta, né?!É, a gente morava perto, era vizinho. Eu morava em Los Angeles na época, e aí surgiram as primeiras faixas. Até chegar na quinta, sexta faixa, levou mais que um ano e meio. Já com participação.
Mas é um jeito legal de fazer música, não?Sem compromisso...
E os artistas convidados? Foi complicado de toparem participar?Numa certa fase, em que já tínhamos 20 músicas, umas quatro faixas gravadas, começamos uma lista dos sonhos. Com o nome das músicas, e daí colocávamos do lado quem a gente imaginava ali. A partir disso começamos a ir atrás. Dessa lista, a gente concretizou, posso te dizer, quase que oitenta por cento. Da maioria não tínhamos contato não, foi na raça mesmo, indo atrás... Teve alguns que ficamos anos tentando. Teve gente que começou a gravar e não terminou. Em outros casos, o som nunca chegava diretamente pra pessoa. Por exemplo: procuramos o David Byrne uma época, sem nunca obter resposta nem nada. Então conhecemos uma sobrinha dele em Nova York, falamos com ela, contamos do disco, isso, aquilo, e no dia seguinte ele nos ligou. E aí uma semana depois ele já tava gravando, pediu pra fazer mais uma e não quis cobrar. Ele gostou e abraçou a idéia.
O legal é que vocês conseguiram reunir uma galera que representa mesmo.Pois é, agora que tá caindo a ficha. Eu gostei do resultado porque é um álbum atemporal, não soa 2007/2008. Não é um disco de pista, porque música de pista normalmente é passageira, ela dura uma temporada. Até tem música pra pista no disco, mas é pra você ouvir, é hip-hop basicamente, mas tem músicas mais profundas, com cara de trilha de filme. Tem um pouco de tudo ali. Não ficou datado. Pras pistas a gente vai trabalhar mais o formato remix.
Com tanta gente envolvida, o álbum ficou cheio de referências, né?!Eu acho que o ponto de derrubar fronteiras, esse lance de juntar a Karen O. com o Ol'Dirty Bastard e Fatlip, é uma coisa inusitada e que ao mesmo tempo soa natural. Ou mesmo o Tom Waits com Kool Keith. O Waits nunca tinha gravado nada nesse estilo, ou coisa parecida, e também foi outro que abraçou o projeto de verdade.
Fale do nome North America South America.É que eu e o Squeak E. Clean, nós somos de dois mundos distintos, mas temos tudo a ver. Ele é o NA e eu sou o SA. Somos de gerações diferentes, mas as idéias se conectam pela música, nós nos juntamos e acabou virando família. E imagino que muita gente no disco acabou entrando nessa viagem com a gente. Muitas pessoas que gravamos acabaram virando amigos pessoais.
Tem sido mais fácil divulgar a nova música brasileira lá fora?Eu não faço música brasileira tipo exportação. O meu estilo de composição, você escuta e não identifica de onde é. Eu uso a fonte de música brasileira. Ás vezes eu pego uma idéia de sampler e depois ele some, a gente retoca, a fonte que eu usei desaparece depois da música pronta. E mesmo o meu set de DJ é assim.
Resumindo, você prefere ter uma identidade artística a uma identidade nacional?Lá em Los Angeles, muita gente nem sabia que eu era do Brasil. Mas, mesmo assim, eu acho que a palavra "Brasil" abre portas total hoje em dia. Diferentemente de dez, doze anos atrás. Às vezes, entrávamos no estúdio, e quando descobriam que eu era do Brasil o pessoal, algum rapper e tal, abria um sorriso e já queria saber alguma coisa a mais.
Como são as apresentações ao vivo do projeto, vocês levam alguém pro palco?Já levamos, em algumas ocasiões, o Fatlip, que é o colaborador mais próximo de nós. Ele viaja com a gente de vez em quando. Mas ultimamente estamos fazendo DJ set e audiovisual. Controlando o vídeo por vinil. O Serato tá controlando vídeo agora.
Tipo aquilo que o DJ Yoda faz com DVD?É, só que com o Serato Video. Eles fizeram uns testes, deram pra gente testar antes de lançar. Você tem a faixa no laptop e roda junto com o Quicktime, entendeu?! Tem a ver com o Yoda, esse lance de manipular imagem, scratch com imagem, mash-up de vídeo. E tamos tocando várias músicas do N.A.S.A., só que numa versão pra show que é diferente do álbum. Filmamos quem participou, e tem imagens das pessoas gravando, ou cantando mesmo, pros clipes que a gente tá criando. O pessoal interage com a gente no palco, mas em forma de vídeo.
Então já temos uma prévia do que vocês vão fazer no Nokia Trends...Esse vai ser o formato do Nokia Trends. Levamos pro palco o Cosmic Crew também. Uma coisa meio teatral, com monstros de ficção científica, astronauta, Godzilla, essas coisas, umas referências marcianas. A gente monta uma crew local pra fazer essa performance e, aqui no Brasil, vão ser os B-Boys do Tsunami Crew. Em cada lugar que tocamos é uma turma que faz isso. Não fica aquela coisa de só dois caras tocando, sabe?! Tem até um vídeo no YouTube que é engraçado, do festival lá de Pittsburgh, em que montamos isso pela primeira vez. Queríamos fazer uma coisa diferente, que interagisse com o público. E surgiu essa idéia, deu super certo.
O que mudou no seu jeito de fazer música desde o Planet Hemp?Eu acho que a minha base sempre foi o hip-hop. Sempre apliquei isso em qualquer estilo que eu estivesse tocando, mas sempre fui bem eclético também. Sempre misturei rock, influências, tudo, de Jimi Hendrix a rockabilly, new wave, punk rock e eletrônico. Sempre misturei, mesmo na cena hip-hop, que é um pouco fechada, Sabbath no set, AC/DC, não acho que mudei muito. O próprio Planet era uma mistura de estilos. Cada um na banda tinha uma influência e vinha de uma formação.
Gosto de música, não importa o estilo. Música boa é música boa. O que eu tenho procurado fazer é me diferenciar de alguma forma, numa época em que a tecnologia disponibiliza um acesso muito fácil pra baixar centenas de músicas e que todo mundo virou colecionador. Então eu produzo tudo aquilo que toco. Remixes, versões, edits. Não toco nenhuma música na versão original. O diferencial que dá pra ter hoje em dia é você ser exclusivo. Todo mundo tá muito parecido. Tem um monte de gente que se acha por nada. Não produz, não faz nada e nem toca tão bem assim, não mixa... E vira Superstar DJ... Não tem trabalho autoral legal e nem se garante tanto pelo lado técnico...
Eu entendo o que você quer dizer. Outro dia tava numa balada conversando com um DJ que não conhecia Grandmaster Flash, por exemplo...Eu sempre pesquisei música, sempre freqüentei todos os tipos de balada, gosto do novo, não tenho medo do novo, e mantenho minha raiz. O que importa é isso, trazer todas as minhas referências e fazer música boa.
Depois do lançamento do N.A.S.A., o que vem pela frente?Eu to preparando um DVD Mix, um set de audiovisual. É meu projeto pro ano que vem, lá pra julho, alguma coisa assim. Tem bastante coisa encaminhada, mas não posso te dar muitos detalhes. Será um mix que reúne desde filmes até apresentações ao vivo, misturado com coisas que a gente tá filmando. Haverá outras participações, mas o DVD é meu.
+ info
Nokia TrendsQuando: 29 de novembroHorário: a partir das 21hOnde: Cine Marrocos (R. Conselheiro Crispiniano, 344)Ingressos: R$ 80Onde comprar: www.ticketmaster.com.brSão Paulo: 11 6846.6000; Outros estados: 0300-7896846
www.nokiatrends.com.br
www.myspace.com/northamericasouthamerica
N.A.S.A. aterrissa com monstros B-Boys no palco do Nokia Trends
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Postado por angel gothic às 16:03
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