Carol Ramos
Natural do bairro carioca de Nova Iguaçu,
Conectado com o que acontece no resto do mundo, Sany também foi buscar no electro os beats para enriquecer seu som, que hoje é adorado pelo público europeu e já foi definido pela revista XLR8R como "pós-funk". No ano passado, Sany fez duas tours internacionais, tocou no encerramento do Tim Festival e fez sua estréia no cinema. Confira a entrevista que o Skol Beats fez com ele:
O ano passado foi bem agitado para você, né?
Sim. Reencontrei meu público na Europa e toquei em países que não conhecia, como Estônia e Holanda. Também toquei no Fabric, o clube mais conhecido de Londres, levando pela primeira vez o baile funk pra lá, e fiz o encerramento do Tim Festival.
Soube que você também trabalhou no cinema. Como foi descobrir outras áreas dentro da sua profissão?
Foi uma experiência muito bacana. Fui assistente de direção musical no filme Era uma vez, do diretor Breno Silveira (sobre um rapaz da favela que se apaixona por uma garota da zona sul carioca), e fiz a produção musical do documentário Favela on Blast, dos diretores Leandro HBL e Diplo. Também fiz a trilha sonora de um desfile de moda com o maestro Berna Ceppas. Trabalhei muito!
E agora, como será 2009?
Estou entregando uns remixes, fazendo uns beats e organizando a tour de abril. Serão pelo menos dois meses tocando praticamente todos os dias, varrendo o velho continente de ponta-a-ponta.
Você ainda mora em São Cristovao? Tem estúdio em casa?
Sou carioca da gema. Cresci em Nova Iguaçu, mas moro em São Cristóvão. É o primeiro bairro do Brasil, amo esse lugar, minha casa, minha família. Estou agora fazendo umas obras pra finalmente ter o meu estúdio em casa. Minha relação com a comunidade daqui é a melhor possível. Nós cariocas somos especialistas em fazer festa e não precisa ter dinheiro pra comemoração e nem um motivo especial.
Na sua concepção, quais são os tipos de funk que existem? Que tipo é o que você faz?
O funk tem mais de 30 anos. Tem o proibido, que pra mim não tem nada de proibido. Apenas fala sobre as verdades e os problemas da favela. Funk é música e música é arte. Os relatos ali cantados são apenas a realidade vivida. Se cantar a realidade das favelas é "proibidão", o filme Cidade de Deus também é um "proibidão". Também existe o funk "comédia", que os Mcs Serginho, Gorila e Preto fazem muito bem; o funk romântico do Mc Marcinho, da Perlla, do Leozinho e do Claudinho & Buchecha, e o funk eletrônico, feito de colagens (mash-ups), com uma sonoridade bem peculiar. Meu som é a junção de todos eles com todo o tipo de som que já ouvi, desde as coisas mais tradicionais como samba, forró, sertanejo, como também o rock e o electro. Gosto de misturar tudo nesse liquidificador gigante que é o funk carioca.
O rock também é uma sonoridade constante no seu trabalho...
Eu moro em bairro de subúrbio, mas sempre circulei pelos morros, pelas escolas de samba. Tenho amigos que ouvem rock, do mais pesado ao mais pop. Sou viciado em mulher e em música desde pequeno. Sou filho de um catarinense com uma baiana e na minha casa sempre se ouviu de tudo. Tudo isso é muito vivo dentro de mim e misturar funk com rock foi natural. A audiência que mudou. O rock é coisa de branco, pelo menos no Brasil. E funk é coisa de preto. O que valeu pra mim foi o resultado, a sonoridade.
Afinal, somos um país de raças misturadas...
Sim, e as misturas não param por ai. Tem funk com chorinho, com samba, com música clássica, com eletrônica, sintetizadores. Somos um país multiracial, multicultural, multimusical e as misturas estão presentes em todos os níveis da nossa sociedade. Pena que existe ainda essa mídia marrom (nem branca e nem preta) que nos empurra guela abaixo o que é bonito aos olhos deles, ditando moda, comportamento. Ainda bem que temos mídias alternativas para nos mostrar que podemos gostar e ser o que quisermos. Viva a internet, o YouTube, MySpace e outros.
Você foi considerado pela revista XLR8R um DJ de pós-funk...
Tem gente que classifica esse som como pós-baile funk, talvez uma evolução da batida, do beat do funk carioca. Existem outras pessoas fazendo isso por ai, como o produtor e DJ Chernobyl. Para mim é tudo a mesma coisa, o que muda é a audiência, pois o funk evolui o tempo todo. O baile funk mais tradicional dos morros cariocas é influenciado pelo candomblé e as batidas africanas, assim como pela música nordestina, já que mais de 50% do povo da favela tem origem no nordeste brasileiro.
Como você vê a evolução do baile funk no Rio desde que começou, em termos sociais e musicais?
O funk está em constante estado de evolução, mutação e sempre falou de tudo em suas letras, mas o que aparece é a apenas uma parte só: o bunda-funk. Isso é resultado da realidade cultural do país. Houve uma época que as pessoas reclamavam dos erros de português das letras do funk, como se fosse problema do funk resolver a educação do Brasil. Isso cansava a gente. Outra época, éramos criticados por falar só de violência e hoje vivemos a exploração exagerada do sexo, que está presente em todas as novelas, seriados e afins, mas parece que só o funk faz isso. Musicalmente o funk evoluiu muito, não devemos mais nada aos gringos, não sampleamos mais nada deles. O funk cria seu beat 100% brasileiro, seus sons e seu estilo próprio. Se as pessoas acham que a letra não tem nada acrescentar, a culpa não é nossa. Existe muito funk do bom e do bem por aí.
O que você colocaria hoje no funk?
Tudo. O futuro da musica é a mistura.
Como é o seu público na Europa?
Meu público na Europa gosta de música eletrônica e só toquei para brasileiros lá uma única vez. Já vou pra lá há quatro anos, já passei por mais de 25 países e posso dizer que os europeus são muito exigentes, estão acostumados com som de qualidade. Por isso, eu levo para eles o supra sumo dos beats brasileiros e sons mundiais misturados ao beat do funk carioca, aliados à um Live na MPC. Acho que isso faz com que esse público gringo queira ouvir meu som. Confesso que não uso muito vocais brasileiros nas produções, mas a sonoridade brasileira está presente, através do som do berimbau, acordeon, bandolim, etc.
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