Enquanto as major labels patinam na graxa do velho modelo da indústria cultural, atitudes como da companhia Live Nation inauguram novas formas de ganhar dinheiro com música e continuar na competitividade
Eduardo RibeiroHá alguns meses o rapper Jay-Z declarou que estava à procura de um contrato de 100 milhões de dólares para começar em um novo selo. A idéia parece absurda pelo simples fato de que as grandes gravadoras não estão mais podendo correr riscos desta magnitude, uma vez que a venda de música prensada deixou de ser a menina dos olhos desde que a cultura digital bradou suas indiscutíveis vantagens, tanto para o público quanto para os artistas.
É como se a cultura underground da demo-tape, dos fanzines e dos festivais do it yourself, assim como as alianças via carta entre agitadores das antigas tivessem alcançado o formato ideal para deslanchar. O que é o MySpace por exemplo, senão a aglutinação de tudo isso na tela de um computador? Lá a gente ouve o som no player, o que substitui a demo-tape; a gente confere vídeos, fotos, lê o blog do artista, ferramenta que faz as vezes de fanzine; e, por fim, divulga shows e fala com ouvintes e outros músicos, possibilidade que substitui os flyers e as demoradas cartas do passado.
O fato é que Jay-Z, hoje com 38 anos de idade, teve o fôlego de bater o pé e conseguiu alcançar sua meta de contrato milionário. Quem achou que os artistas de hoje, sobretudo Jay-Z, cujo último álbum American Gangster não chegou a ser um blockbuster de vendas, estancado na platina, não gozam mais de cacife para jogar o cachê tão pro alto, enganou-se. A juvenil companhia Live Nation (fundada em 2005) irá pagar 150 milhões por uma parceria de dez anos por lucro em todos os seus negócios relacionados à música e possivelmente alguma quantia por outras investidas, como t-shirts e coisas do tipo.
Os próximos três álbuns com o nome do Rolling Stone do hip-hop já contam com adiantamento garantido de 10 milhões de verdinhas. Existe também a possibilidade de serem pagos 50 milhões para que ele comande um novo selo, por onde poderá lançar os próximos trabalhos de Rihanna e Kanye West, assim como fez com a Def Jam Recordings.
A Live Nation está com outros medalhões debaixo da asa: Madonna fechou dez anos de contrato por 120 milhões; U2 fechou 12 por 100. Em ambos os casos a empresa terá direitos sobre todos os negócios relacionados à música, com exceção dos álbuns do U2, que continuarão sob a batuta da Interscope. Ensaios, artigos e matérias têm pintado por todos os cantos da imprensa já há algum tempo desde a popularização do mp3 e dos softwares de troca de arquivos - em geral, todos apontam as milhares de novas estratégias de negócio geradas pelas emergentes plataformas de comprar, fazer e curtir som. Estão aí o Radiohead e o Nine Inche Nails que não nos deixam mentir.
Não é absurdo pagar tantos milhões para estes músicos em plena crise da indústria fonográfica, já que a Live Nation, consciente dos lucros da Ticketmaster, pretende dominar o controle dos ingressos de seus assinados, entre outras formas de obter lucro. De todas as investidas espertas que surgiram até o momento, as major labels estão de fora. Artistas consolidados que buscaram a independência, a Apple e agora a Live Nation, estão definitivamente anos-luz à frente nessa corrida.
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